A Mãe observa-a.
Olha fundo nas fundas meias-luas escuras debaixo dos seus olhos, no amarelo triste da sua tez.
Escuta o grito abafado da sua saudade.
Cheira o vácuo no buraco negro do seu medo.
Tacteia a ferida infectada, sobre o lençol que lhe cobre a alma.
A Mãe sente-a.
Como só uma mãe faz.
- É cansaço, Filha?
- Não sei, Mãe. Pergunta ao Fernando Pessoa.
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Álvaro de Campos