terça-feira, 10 de março de 2009

Grave-idade

Hoje caí.
A meio de uma desnecessária correria para apanhar o autocarro, o Mundo meteu-se no caminho dos meus pés e fez-me cair.
Tão depressa via tudo da altura do meu metro e sessenta, como estava já reduzida à perspectiva de uma criança que ainda gatinha.
Nos segundos seguintes aos segundos em que espraiei o meu corpo pela calçada, não tive tempo de pensar muito, só tive tempo de me sentir uns quinze anos mais nova e ter vontade de chorar alto e bom som, e de ter um adulto comigo para me erguer de novo e consolar.
E soprar na minha ferida.
Aquele sopro que mais não é do que uma deslocação de ar, mas que refresca e alivia de uma forma quase mágica, ao sair dos lábios daqueles que nos querem sempre bem no alto desta vida.
Nesse momento quis que me soprassem na alma, que era aí que estava a ferida de estar ali
caída, magoada, sozinha, sem idade.

Hoje compraram-me o meu primeiro carro.
Sem que eu tenha sentido o pulo físico e o fogo-de-artifício que julgava acompanhar estas mudanças, subitamente parece que sou oficialmente adulta.
Tenho idade e responsabilidade para beber, votar, conduzir, e finalmente, para ter o meu próprio carro.
E no entanto sinto-me igual a ontem. E a anteontem. E a Março de 2006. E de 1999.
Sou tanto e tão pouco...

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