A vida dá voltas, enrola-se, dobra-se, desdobra-se. Estica, encolhe. Foge.
Agora que dou por mim a ver-lhe o fim antecipado, vejo, percebo (com olhos de perceber).
tenho a tendência de olhar para trás, para o que foi, para o que fiz, como se isso fosse toda uma grande história. Uma parva nostalgia de 20 anos, é tudo. quando afinal o que vivi até agora foi apenas um ensaio para o verdadeiro mundo.
É uma vida que o foi e não o foi. Tudo o que fiz, e faço ainda, não foi senão uma base, uma antecipação, um estágio.
Estudei para aprender o que é o trabalho, trabalhei para aprender o que me espera num trabalho a sério, fiz um curso para descobrir que não me ensinou nada, nada como a rua, nada. O que sofri foi só uma amostra do sofrimento que me espera ainda, e não para me assassinar.
O que amei, bem o que amei não me ensinou nada para futuro amor, ponto.
As amizades e laços que criei foram para testar flexibilidades, e para garantir que quando o sofrimento real vier, terei alguém para me amparar.
As pessoas que deixei para trás e que perdi mostraram-me a dor da perda e da saudade que acumularei até ao fim.
Hoje tive uma revelação. A longa vida que julgo ter tido já, nem vida, muito menos longa, foi. Estes 20 anos andei apenas a preparar-me para os próximos 60. E acho que estou bem preparada. Não sei é quando começam esses novos anos a sério, mas venham.
Agora, não vou achar mais que toda a diversão que se tem numa existência tem que ser vivida neste estágio, muito pelo contrário, e tal como o mau, o bom que passei não se compara em nada ao que que ainda me falta passar. E por isso não vou mais ter pressa de viver.
A vida virá, com tudo, com a força toda, o livro vai ainda no prefácio, ainda está todo por escrever, até aqui sou só um rascunho.
Então, quero ter já a sabedoria que se costuma atingir já no fim do livro, quero ter aprendido a lição, já no início, para ser mais útil.
É que o que construo nesta viagem é só meu, sou sozinha e sou única e não me vou nunca preocupar com o que os outros pensem (dentro dos limites da razão que me orgulho de ter). E vou fazer o que eu quiser.
Hoje vou calçar os saltos altos, sem medo de dores, vou-me maquilhar, para estar bonita para o ecrã que me encara todo o dia. Vou chegar atrasada. Vou andar de comboio pelos subúrbios à noite.
Vou viver. Porque não sei se vou chegar a viver a vida para a qual me preparei. não sei sequer se ela já começou e não me avisaram, se já é a sério, se sempre foi.
Estou cá e vou existir. vou Estar.
Existam também. Estejam.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Oração de ateu
As circunstâncias da vida levam-nos para longe de pessoas. E levam-nas para longe de nós. A dor de perder alguém para a morte é atroz, mas a dor de perder alguém para a vida tem também que se lhe diga. Conheço as duas, sei do que falo.
Como se não bastasse já a saudade dos que partiram do mundo terreno, vivo ainda pendurada na palermice de pensar em alguém com quem não posso falar. Alguém que não está morto, mas para quem eu morri. Num actual mundo das tecnologias, das comunicações e das ligações, somos seres separados por meros obstáculos emocionais. Obstáculo é sempre obstáculo.
Cheguei então à conclusão que aquilo que faço é rezar. Na minha Enciclopédia da Vida rezar não está ligado à religião. O que faz alguém que reza a deus mais não é do que falar com alguém que não o ouve nem lhe responde. Em nada diferente do que faço. Com a diferença que eu conheci os meus destinatários, eles não conheceram deus. Os crentes rezam na esperança de serem ouvidos e ajudados de alguma forma. Eu apenas o faço com a fantasia de que falem também comigo e que as preces se encontrem algures no tempo, algures... Nada mais peço. Ambas as orações são também desabafos, pensamentos que ninguém quer ou pode ouvir mas que já não cabem dentro da frágil mente humana. São pedaços de dor, saudade e loucura.
Rezo aos meus mortos e aos vivos de alguém.
A minha religião são as pessoas que conheci e amei.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Dúvidas existenciais de um blog
Este blog não está propriamente a seguir o rumo que eu gostaria que ele seguisse. Quando o criei queria que ele servisse para eu escrever nele aquilo que me apetecesse. Era suposto.
Mas dei por mim a enchê-lo de textos profundíssimos, e cada vez que dava por mim a querer escrever sobre algo mais superficial, a desvendar aqui outras facetas da minha pessoa, a pensar que não podia misturar as coisas. E ficava à espera de uma certa inspiração para escrever.
Mas depois pensei: mas afinal, quem é que manda no MEU blog? Porque é que hei-de tentar dar uma personalidade super definida ao MEU blog se nem EU sei bem quem sou? Que raio...
Por isso a partir de agora vou escrever sobre o que me apetecer. Teoricamente. Não que o meu meio leitor se preocupe com isso.
Ou então devia tentar ir descobrir quem sou antes de criar um blog...
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Diarreia mental
Os dias passam, correm num passo descompassado para uma morte inevitável. Quanto mais próximos estamos dela mais a empurramos para longe. Às vezes.
Já cheguei a chamá-la. Quando era mais pequena e não me despachava, às vezes diziam-me que eu era boa para ir chamar a Morte. Piadas de mau gosto estas que os adultos têm a mania de fazer. Se eles soubessem...
Frases desconexas estas, que hoje resolvi deixar sair pelos meus dedos ao ritmo que me passam pela cabeça. Para variar.
Em conversas muitas vezes noto os olhares franzidos das pessoas que não compreendem os meus raciocínios. Como passo de um pôr do sol para uma pedra e daí para um túmulo e daí para um palhaço. Como passo de um sorriso para uma sombra de tristeza e dela salto para uma gargalhada. E vice versa. Não sabem como isto funciona. Nem eu.
Como são loucos os meus saltos de passagem auto reflexiva. Sou a melhor do mundo, Rainha da Sucata! Sou a própria sucata, falhada. Em cambalhota e em pirueta. Triplo salto mortal. E o pior de tudo é ter de aterrar sempre de pé.
Nem louca me deixam ser. Felizes dos loucos que podem ser loucos e agir como tal. Pois a mim não me é permitido. Que nós somos fortes, que nós ultrapassamos tudo, não somos como os outros. Aqui não há pão para malucos. Como eu queria nem que fosse uma migalha só...
Ando a queimar dias de sol. E de chuva. Ando a não viver a vida e a vê-la a passar num ecrã qualquer. A arrepender-me por antecipação, inerte, passiva, letárgica, letal.
Quero estar contigo, mas não quero estar sem mim. Não quero morrer para mim própria, nem ter saudades. Ou um dia em pesadelos ou alucinações encontrar-me e não resistir à dor do que perdi.
Do que perdi...!
Antes que cheguem os abutres vou-me deitar e enlouquecer a dormir.
Lá posso.
quarta-feira, 10 de março de 2010
O ano da Pica
Desde os primeiros dias de 2010 que de vez em quando me vinha à cabeça a ideia de que este ano era, por algum motivo, importante. Que alguma coisa acontecia em 2010. Mas não sabia o quê, para além de eu fazer 21 anos e atingir a maioridade de todas as maioridades.
Até que um destes dias me lembrei. Este ano tenho que levar uma vacina.
ESTE é o ano da Pica!
Tive que procurar pelo velho e manchado boletim de vacinas, porque tenho muitos amigos que são um ano mais velhos que eu e já estava confusa (e esperançosa), pois podia ser só em 2011. Mas não, é mesmo este ano.
Foi então há dez anos que escreveram aqueles números a lápis, marcando para dali a uma década a data da próxima vacina, o que para uma criança de onze anos significa uma Era. Pensava em 2010 como se já fosse por essa altura, adulta e cheia de mim, velha. Pensava como se a pessoa que seria nesse ano fosse absolutamente diferente da que eu era na altura.
E agora olho para essa criança e vejo que não. Porque entre muitas outras coisas, continuo a ter medo de levar picas. E continuo à espera de um dia vir a ser a pessoa que previra ser em 2010. Mas agora sei que talvez nunca a venha a ser.
Talvez seja sempre puramente e só uma criança com mais dez anos,
e mais dez, e mais dez,
e morra a sonhar com ser crescida.
Vamos ver que data é que escrevem depois. Até lá, medo.
Até que um destes dias me lembrei. Este ano tenho que levar uma vacina.
ESTE é o ano da Pica!
Tive que procurar pelo velho e manchado boletim de vacinas, porque tenho muitos amigos que são um ano mais velhos que eu e já estava confusa (e esperançosa), pois podia ser só em 2011. Mas não, é mesmo este ano.
Foi então há dez anos que escreveram aqueles números a lápis, marcando para dali a uma década a data da próxima vacina, o que para uma criança de onze anos significa uma Era. Pensava em 2010 como se já fosse por essa altura, adulta e cheia de mim, velha. Pensava como se a pessoa que seria nesse ano fosse absolutamente diferente da que eu era na altura.
E agora olho para essa criança e vejo que não. Porque entre muitas outras coisas, continuo a ter medo de levar picas. E continuo à espera de um dia vir a ser a pessoa que previra ser em 2010. Mas agora sei que talvez nunca a venha a ser.
Talvez seja sempre puramente e só uma criança com mais dez anos,
e mais dez, e mais dez,
e morra a sonhar com ser crescida.
Vamos ver que data é que escrevem depois. Até lá, medo.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Dou por mim a analisar a minha vida, e descubro sempre novos factos para me preocupar. Ou para ter pena, ou para ter medo. Instala-se um medo de viver, um pânico do tempo que passa e do que poderá trazer com ele. Um filme de terror, quando já se está aterrorizado mas se sabe que ainda virá algo pior, aquela tensão.
As vezes acordo com os problemas já a latejarem nas têmporas. Nesses dias penso que se me enrolar na minha cama e me esconder debaixo dos cobertores, imóvel, eles vão desaparecer. Que vão embora, incomodar outra pessoa qualquer que não a mim. Mas eles sobrevivem e multiplicam-se juntamente com os minutos verdes que passam no despertador.
E depois é o eu ser esta criatura ruminante das emoções. Atrás de qualquer pensamento ruim vêm sempre todas as amigas desgraças que estão guardadas lá dentro da memória à espera de serem lembradas, para me enterrarem em tristeza. E lá fico soterrada por mais algumas horas, dias, até que alguém me venha resgatar dos escombros.
Coragem.
As vezes acordo com os problemas já a latejarem nas têmporas. Nesses dias penso que se me enrolar na minha cama e me esconder debaixo dos cobertores, imóvel, eles vão desaparecer. Que vão embora, incomodar outra pessoa qualquer que não a mim. Mas eles sobrevivem e multiplicam-se juntamente com os minutos verdes que passam no despertador.
E depois é o eu ser esta criatura ruminante das emoções. Atrás de qualquer pensamento ruim vêm sempre todas as amigas desgraças que estão guardadas lá dentro da memória à espera de serem lembradas, para me enterrarem em tristeza. E lá fico soterrada por mais algumas horas, dias, até que alguém me venha resgatar dos escombros.
Coragem.
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